Os números imaginários têm uma explicação intuitiva: eles “rodam” os números, assim como os negativos criam uma “imagem espelhada” de um número. Essa intuição torna a aritmética com números complexos fácil de entender e é um excelente meio de conferir seus resultados. Aqui está nossa tabela de dicas:

Este post irá caminhar através de significados intuitivos.
Variáveis complexas
Na álgebra tradicional, nós geralmente dizemos e está tudo certinho — existe algum número
cujo valor é
. Com números complexos, existe um empecilho: são duas dimensões para considerar. Quando escrevemos

estamos dizendo que existe um número com duas partes:
(a parte real) e
(parte imaginária). É um pouco estranho que “um” número possa ter duas partes, mas já estamos lidando com isso há algum tempo. Nós geralmente escrevemos:
e não nos incomoda que um único número tenha tanto uma parte inteira (
) quanto uma fracionada (
ou
).
é uma combinação de dois elementos. Os números complexos são similares: eles têm suas partes reais e imaginárias “contidas” em uma única variável (as abreviações são geralmente
e
).
Infelizmente, não temos uma notação legal como para “fundir” as partes em um único número. Eu tinha uma ideia para escrever a parte imaginária verticalmente, mas ela não era muito popular. Então vamos nos ater ao formato
.
Medindo o tamanho
Uma vez que os números complexos usam dois eixos independentes, encontramos seu tamanho (magnitude) usando o teorema de Pitágoras:

Então, um número terá magnitude
. O atalho para “magnitude de
” é este:
.
Vê como ele se parece com o sinal do valor absoluto? Bem, de certa forma, é a mesma coisa. A magnitude “mede a distância” de um número complexo até o zero, assim como o valor absoluto “mede a distância” de um número negativo até o zero.
Adições e substrações complexas
Já vimos que a adição usual pode ser pensada como um “deslocamento” por certo número. A adição com números complexos é parecida, mas podemos fazer o deslocamento em duas dimensões (real e imaginária). Por exemplo:

Somar a
dá
.
Novamente, esta é uma interpretação visual de como “componentes independentes” são combinadas: seguimos as partes reais e imaginárias separadamente.
A subtração é o reverso da adição — é um deslocamento na direção oposta. Subtrair é o mesmo que somar
ou somar
.
Multiplicação complexa
Aqui é onde a Matemática fica interessante. Quando multiplicamos dois números complexos e
para obter
:
- Some os ângulos:
;
- Multiplique as magnitudes:
.
Isso é, o ângulo de é a soma dos ângulos de
e
e a magnitude de
é o produto das magnitudes. Acredite ou não, a mágica dos números complexos faz a Matemática funcionar!
Multiplicar pela magnitude (tamanho) faz sentido — estamos acostumados ao que acontece em uma multiplicação usual ( significa multiplicar
pelo tamanho de
). A razão da adição dos ângulos funcionar é mais detalhada, e vamos deixá-la para outra hora. (Curioso(a)? Encontre as fórmulas de adição de senos e cossenos e compare-as com o resultado da multiplicação de
).
Hora de um exemplo: vamos multiplicar por ele mesmo. Antes de fazer todas as contas, sabemos algumas coisas:
- A magnitude resultante será
.
tem magnitude
, então
;
- O ângulo resultante será maior do que 90 graus.
é maior do que 45 graus (uma vez que
resultaria em 45 graus), então o dobro do ângulo será maior do que 90.
Com nossas previsões no papel, podemos fazer um pouco da matemática:
Hora de conferir nossos resultados:
- Magnitude:
, que confere com nossa conjectura;
- Ângulo: uma vez que
é negativo e
é positivo, sabemos que estamos “na parte de trás do eixo” e “para cima”, o que significa que ultrapassamos a marca de 90 graus (“eixo vertical”). Entrando nas complicações, usamos a calculadora para
graus[1] (tendo em mente que estamos no quadrante 2). Esse resultado também bate com a previsão inicial.
Legal. Se podemos sempre fazer todos os cálculos, a intuição sobre rotações e escalas nos ajudam a conferir o resultado. Se o ângulo resultante fosse menor do que 90 graus (“para frente para cima”, por exemplo) ou se o resultado não fosse 25, saberíamos que algo deu errado nas contas.
Divisão complexa
A divisão é o oposto da multiplicação, assim como a subtração é o oposto da adição. Quando dividimos números complexos ( dividido por
):
- Subtraia os ângulos:
;
- Divida as magnitudes:
.
Soa bem. Agora vamos a um exemplo:
Hum… por onde começar? Como nós fazemos realmente a divisão? Divisões algébricas básicas já me dão arrepios, imagina só com essa esquisitice do . (Senhor, senhor! Você sabia que
? Basta multiplicar ambos os lados por
e veja você mesmo o que acontece! Eek.). Por sorte, existe um atalho!
Introduzindo os números complexos
Nosso primeiro objetivo é subtrair os ângulos. Como fazemos isso? Multiplicando pelo ângulo oposto! Isso irá “somar” um ângulo negativo, que é o equivalente da subtração do ângulo original.

Em vez de , pense sobre um número
, chamado “complexo conjugado”. Ele tem a mesma parte real, mas a parte imaginária é “espelhada”. O conjugado ou “reflexo imaginário” tem a mesma magnitude, mas o ângulo oposto!
Então, multiplicar por é o mesmo que subtrair o ângulo. Legal.

Complexos conjugados são indicados por um asterisco () ou por uma barra sobre a variável — matemáticos adoram discutir sobre essas convenções para as notações. De todo modo, o conjugado é um número complexo com parte imaginária “girada”.
Note que a parte imaginária não precisa ser necessariamente negativa. Se , então
.
Multiplicando pelo conjugado
O que acontece quando você multiplica pelo conjugado? O que é vezes
? Sem pensar, pense sobre isto:
Pegamos o número 1 (real), adicionamos o ângulo() e depois o ângulo(
). Mas este último ângulo é negativo — temos uma subtração! Então nosso resultado final deve ser um número real, uma vez que cancelamos os ângulos. O número deve ser
, já que escalamos duas vezes.
Agora vamos a um exemplo:
Obtivemos um número real, como esperado! Os fãs da Matemática podem tentar a álgebra também:
Tãdã! O resultado não tem parte imaginária e a magnitude é elevada ao quadrado. Entender os complexos conjugados como uma “rotação negativa” nos permite prever esses resultados de uma forma diferente.
Escalando seus números
Quando multiplicamos pelo conjugado , escalamos pela magnitude
. Para reverter esse efeito, podemos dividir por
e para realmente encolher por
, temos que dividir novamente. Em outras palavras, para obter o número original após uma multiplicação pelo conjugado, temos que dividir o resultado por
.
Mostre-me a divisão!
Eu venho evitando a divisão e aqui está a mágica. Se queremos resolver
Podemos usar uma abordagem intuitiva:
- Rotacionando pelo ângulo oposto: multiplicar por
em vezes de
;
- Dividir pela magnitude ao quadrado: dividir por
.
A resposta, utilizando essa abordagem, é:
O método tradicional “arroz com feijão” envolve multiplicar em cima e embaixo pelo complexo conjugado:
Somos ensinados tradicionalmente a “apenas multiplicar ambos os lados pelo complexo conjugado” sem questionar o que a divisão complexa realmente significa. Mas não hoje.
Nós sabemos o que está acontecendo: a divisão é igual a subtrair um ângulo e encolher a magnitude. Ao multiplicar o numerador e o denominador pelo conjugado, subtraímos pelo ângulo de (), o que torna o denominador um número real (não é uma coincidência, uma vez que usamos exatamente o ângulo oposto). Escalamos tanto o numerador quanto o denominador da mesma quantidade, então os efeitos se cancelam. O resultado é tornar a divisão em uma multiplicação no numerador.
Ambas as abordagens funcionam (normalmente você aprende a segunda na escola), mas é usar as duas para conferir os resultados.
Mais alguns truques matemáticos
Agora que nós entendemos o conjugado, existem algumas propriedades que merecem nossa atenção:
A primeira deve fazer mais sentido. Somar dois números e “refleti-los” (“conjugá-los”) é o mesmo que somar as suas reflexões. Outro modo de pensar: deslocar dois números e então tomar os seus opostos é o mesmo que deslocar ambos no sentido oposto.
A segunda propriedade é mais complicada. Claro, a álgebra deve funcionar, mas qual é a explicação intuitiva?
O resultado significa:
- Multiplique as magnitudes:
;
- Some os ângulos e tome o conjugado (oposto):
se torna
E significa:
- Multiplique as magnitudes:
(o mesmo de antes);
- Some os ângulos conjugados:
.
Aha! Obtivemos os mesmos ângulos e magnitudes em ambos os casos, e nós não tivemos que passar para nenhuma explicação algébrica tradicional. A Álgebra é muito boa, mas não dá sempre a melhor explicação.
Um exemplo rápido
O conjugado é um modo de “desfazer” a rotação. Pense sobre isso da seguinte maneira:
- Eu deposito R$ 3,00, R$ 10,00, R$ 15,75 e R$ 23,50 na minha conta. Qual transação irá cancelá-las? Para encontrar o oposto: some todos os depósitos e multiplique por -1.
- Eu rotaciono uma linha fazendo várias multiplicações:
,
e
. Qual rotação irá cancelá-las? Para encontrar o oposto: multiplique todos os números complexos e então tire o conjugado do resultado.
Veja o conjugado como um meio de “cancelar” os efeitos de rotação de
, assim como um número negativo “cancela” os efeitos da adição. Um alerta: com conjugados, você precisa dividir por
para remover os efeitos de uma mudança de escala.
Pensamentos finais
A matemática aqui não é nova, mas eu nunca havia me tocado do porquê os conjugados complexos funcionarem como eles funcionam. Por que e não
. Bem, os complexos conjugados não são uma escolha aleatória, mas uma imagem refletida de uma perspectiva imaginária, com o ângulo oposto exato.
Ver os números imaginárias como rotações nos são uma nova mentalidade (mindset) para enfrentar os problemas matemáticos; as fórmulas “arroz com feijão” pode ter um sentido intuitivo, mesmo para tópicos estranhos como números complexos. Happy math.
[1] Na calculadora, o resultado será ~-73,74°. Isso porque a calculadora só acerta o ângulo para primeiro quadrante (x>0, y>0). Então é preciso acrescentar 180° ao resultado (-73,74°+180°=106,26°).
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