Há muitos anos eu gostaria de ler um livro de Joseph Conrad, mas não consigo me lembrar o porquê de ter escolhido O Agente Secreto em vez de Lorde Jim ou Coração das Trevas. Enfim, era o livro que estava no Kindle.
Resumo do resumo, O Agente Secreto é um thriller de espionagem no qual um “agente triplo” (trabalhando para a embaixada de um país eslavo, para a polícia britânica e para o movimento anarquista) se envolve em um atentado terrorista enquanto tenta esconder da sua família seu trabalho de espião.
Primeiro, a respeito do inglês do livro. Achei dificílimo. Sem dúvida o livro de literatura inglesa mais difícil que eu já li no original. Dez palavras novas por página. Joseph Conrad era de origem polonesa e não dominava o inglês antes dos seus vinte anos. Além disso, foi educado em francês. E conhecia mais algumas línguas. Todas essas influências linguísticas “enriqueceram” seu inglês peculiar.
Segundo, a história é instigante, apesar de psicologicamente mórbida e razoavelmente previsível. É baseada em um evento real (que não vou citar aqui para gerar spoilers).
Terceiro e mais importante: o tesouro do livro para mim foi encontrar um personagem chave da história que certamente poderia ser diagnosticado com transtorno do espectro do autismo, ou TEA. Muitos filmes têm personagens principais com essa condição, mas não conhecia nenhum livro que abordasse o tema, ainda que indiretamente. Imagino que poucas pessoas saibam que O Agente Secreto contém um descrição literária rica de um autista, elaborada há mais de 70 anos antes da definição clássica dada pelo psiquiatra Michael Rutter.
Discussões transdisciplinares sobre a obra devem ser um prato cheio para publicações científicas. Por enquanto só achei uma intitulada The Accidental Autist: Neurosensory Disorder in The Secret Agent. Quem tem conta no ResearchGate consegue fazer o download.
Recomendo o livro a todos que se interessam por boa literatura e pelo TEA.
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